terça-feira, 31 de março de 2009

Reflexões sobre a Via Crucis (VII)

Já fora da muralha, o corpo de Jesus volta a abater-se por causa da fraqueza, e cai pela segunda vez, entre a gritaria da multidão e os empurrões dos soldados. A debilidade do corpo e a amargura da alma fizeram com que Jesus caísse de novo. Todos os pecados dos homens — os meus também — pesam sobre a sua Humanidade Santíssima.

"Foi ele que tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas por nossas iniqüidades é que foi ferido, por nossos pecados é que foi torturado. O castigo que nos havia de trazer a paz caiu sobre ele, e por suas chagas fomos curados" (Is 53, 4-5).

Jesus desfalece, mas a sua queda nos levanta, a sua morte nos ressuscita. À nossa reincidência no mal, responde Jesus com a sua insistência em redimir-nos, com abundância de perdão. E, para que ninguém desespere, torna a erguer-se, fatigosamente abraçado à Cruz. Que os tropeços e as derrotas já não nos afastem mais d'Ele. Como a criança débil se lança pesarosa nos braços vigorosos de seu pai, nós - eu e você - nos apoiaremos ao jugo de Jesus. Só essa contrição e essa humildade transformarão a nossa fraqueza humana em fortaleza divina

Jesus cai pelo peso de madeiro... Nós, pela atração das coisas da terra. Prefere sucumbir a soltar a Cruz. Assim sara Cristo o desamor que nos derruba.

Sejamos simples, meus caros... Como Teresinha e tantos outros o foram. Abramos o coração. Olha que ainda nada se perdeu. Ainda podemos continuar avante, e com mais amor, com mais carinho, com mais fortaleza.

E se não tem vivido bem, se não tem se sentido feliz, meu irmão a receita está aqui: põe aos ombros uma partezinha dessa cruz, só uma parte pequena. E se nem mesmo assim podes com ela..., deixa-a toda inteira sobre os ombros fortes de Cristo. E repete desde já comigo: Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado, o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno. E fica tranqüilo.

Certa vez, li num livro de um santo de nossos tempos, algo que dizia assim: "cheguei a perguntar-me qual o maior martírio: se o de quem recebe a morte pela fé, das mãos dos inimigos de Deus; se o de quem gasta os seus anos trabalhando sem outra mira que a de servir a Igreja e as almas, e envelhece sorrindo, e passa despercebido... Para mim, o martírio sem espetáculo é mais heróico... Esse é o teu caminho".

Para seguir o Senhor, para chegar a um trato íntimo com Ele, temos de espezinhar-nos pela humildade como se pisa a uva no lagar... ou como se tritura o trigo no moinho... Se calcamos aos pés a nossa miséria — que é o que somos — , então Ele se hospeda na alma a seu bel-prazer. Como em Betânia, fala conosco e nós com Ele, em conversação confiada de amigos...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

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