terça-feira, 2 de março de 2010

conversão


Sempre há um lugar e um tempo exato em que o Senhor quer encontrar conosco. É esse momento que marca o começo da conversão ou a rejeição radical. Essa conversão é um caminho que exige constância e uma decisão sempre renovada de prosseguir a viagem apesar de tudo. Se na antiga aliança o povo caminhava sob a orientação de Moisés, para nós o caminho a seguir é o Filho de Deus, Jesus Cristo. É ele quem nos tira da escravidão do pecado, que nos leva para fora de nós mesmos...

O sentido da vida eclesial é ajudar-se fraternalmente a dar passos nos caminhos da conversão, ou seja, ajudar uns aos outros a buscar e a seguir a Jesus. Temos que desejar ardentemente que nenhum se extravie, que nenhum se atrase ou se distancie. Este é, precisamente, o convite do Evangelho do próximo domingo, que conclui com a parábola da figueira estéril. O agricultor que roga que não a cortem é Jesus. Como nosso intercessor, dirá até o fim dos tempos: "‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto..." Todos os cuidados que Jesus nos oferece com sua Palavra, com os Sacramentos, com suas intervenções providenciais - e o são também os acontecimentos dolorosos -, são ofertas de conversão. Deixemos que Ele, portanto, nos cultive. A Palavra Sagrada é como uma semente plantada para que possa produzir frutos...

Tudo é providente na vida do homem, tudo está ligado ao tempo: neste sentido, tanto justos como pecadores vivem no tempo, tempo que é um dom de Deus para nós, um tempo de graça, e, portanto, tempo aberto à conversão. Nem o pecador inveterado nem o justo inveterado permanecerão assim para sempre. Somos chamados a ser "pecadores em conversão". Deus nos toca de muitas maneiras para nos trazer a este estado de conversão. Nós só podemos nos preparar para que Deus nos toque.

Fora da conversão estamos fora do amor. Neste caso, não sobraria ao homem mais que duas possibilidades: a auto-satisfação e a auto-justiça, ou uma profunda insatisfação e desespero. Fora da conversão não podemos estar na presença do verdadeiro Deus, pois não estaríamos junto a Deus, e sim junto a um de nossos numerosos ídolos. Além disso, sem Deus, não podemos permanecer na conversão, porque isso nunca seria fruto, unicamente, de boas resoluções ou de nosso esforço. É o primeiro passo do amor, do amor de Deus mais que do nosso. Converter é ceder ao domínio insistente de Deus, é abandonar-se ao primeiro sinal de amor que percebemos como procedente d'Ele. Abandono no sentido de rendição. Se nos rendemos, nos entregamos a Ele. Todas nossas resistências se fundem ante o fogo consumidor de sua Palavra e ante seu olhar... e não temos mais do que a oração do profeta Jeremias: "Faz-nos voltar a ti, Senhor, e voltaremos"...