terça-feira, 1 de maio de 2012

O sentido divino do trabalho


Ao crescer e viver como qualquer um de nós, Jesus, nosso Senhor e Modelo, revelou-nos que a existência humana, as ocupações comuns e habituais, têm um sentido divino, de eternidade.

A fé e a vocação de cristãos afetam toda a nossa existência, não apenas uma parte. As relações com Deus são necessariamente relações de entrega, e assumem um sentido de totalidade. A atitude do homem de fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, sob uma perspectiva nova: a que Deus nos dá.

Confesso que, por vezes, sinto-me fatigado pelo trabalho, pelos estudos... Nosso trabalho – ou nosso processo de preparação para o trabalho, no caso daqueles que ainda estão estudando – não é algo alheio aos planos divinos. Ahhh, como isso me conforta! Deus sempre está a nos acompanhar. Nosso esforço, nosso suor, nosso cansaço, nossa lida diária deve ser instrumento de santificação, para a nossa santificação e para a daqueles que nos cercam. A nossa vocação humana é parte, e parte importante, da nossa vocação divina. Por esta razão, devemos nos santificar – contribuindo ao mesmo tempo para a santificação dos outros, dos nossos irmãos, dos nossos companheiros – precisamente santificando o nosso trabalho e o nosso ambiente: essa profissão ou ofício que preenche nossos dias, que dá uma fisionomia peculiar à nossa personalidade humana, que é a nossa maneira de estar no mundo...

São José, rogai por nós!

quinta-feira, 29 de março de 2012

feitos de barro


(Foto: Wesley Almeida)

A quaresma é um tempo propício para refletirmos sobre nossa vida. E para darmos novo sentido – sentido sobrenatural – àquilo que, por vezes, perdeu o sentido. 

Hoje acordei pensando nas minhas limitações, nas minhas falhas, naquelas pequenas falhas ou, porque não dizer, nas pequenas omissões do cotidiano... nas vezes que falho no cumprimento do meu dever, nas vezes que não correspondo adequadamente à Graça, nas vezes que julgo meu irmão pelo que ele faz e não o enxergo com o olhar de Jesus, ou seja, quando eu não convivo com meus irmãos a partir da experiência de Deus que faço. E enxergar nossa falta de amor, nossas fraquezas, insucessos, decepções, frustrações não é tarefa fácil. Porque encaramos o pior de nós mesmos. Mas é bom refletir sobre isso... Não para sentir-se mal, incapaz, ou ferir-se... mas para reconhecer a matéria de que somos feitos. Não te perturbes, querido leitor, se te conheces tal como és; assim, de barro. Não te preocupes. Porque você e eu somos filhos de Deus escolhidos pela chamada divina desde toda a eternidade: “Escolheu-nos o Pai, por Jesus Cristo, antes da criação do mundo, para que sejamos santos na sua presença” (Ef 1, 4). Nós que pertencemos especialmente a Deus, que somos seus instrumentos apesar da nossa pobre miséria pessoal, seremos eficazes se não perdermos o conhecimento da nossa fraqueza. As tentações dão-nos a dimensão da nossa própria fragilidade.

Se nos sentirmos abatidos, por experimentarmos - talvez de um modo particularmente vivo - a nossa mesquinhez, é o momento de nos abandonarmos por completo, com docilidade, nas mãos de Deus. Conta-se que, certo dia, um mendigo saiu ao encontro de Alexandre Magno e pediu-lhe uma esmola. Alexandre deteve-se e ordenou que o fizessem senhor de cinco cidades. O pobre, confuso e aturdido, exclamou: “Eu não pedia tanto!” E Alexandre respondeu: “Tu pediste como quem és; eu te dou como quem sou”.

Repitamos com a palavra e com as obras: "Senhor, confio em Ti, basta-me a tua providência ordinária, a tua ajuda de cada dia". Não é questão de pedir a Deus grandes milagres. Devemos, antes, pedir-lhe que aumente a nossa fé, que ilumine a nossa inteligência, que fortaleça a nossa vontade. Jesus permanece sempre junto de nós, e comporta-se sempre como quem é. Simples assim.

terça-feira, 27 de março de 2012

amizade


Com os sonhos aprendi a dar passos,
neles sou estrada,
na estrada encontrei amigos,
com os amigos...
Ah... com os amigos a vida, de verdade, faz sentido.
Por isso, vou aprendendo a não pelos anos contar a idade,
mas sim pelo amigos.

(Pe. Marcelo Apolônio)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sobre alegrias e tristezas...



"Sabemos que fomos chamados a uma vida superior. Podemos nos afundar no mundo material, no consumismo, na tecnologia avançada do mundo em que vivemos, no conforto e bem-estar de casa ou até no prazer diante da TV ou do computador. Mas sempre é preciso olhar mais fundo dentro de nós mesmos. Criados à imagem e semelhança de Deus seremos sempre atormentados por essa sede ardente do Infinito.

Fomos feitos para viver sob o sol da alegria e do Amor, nunca no tédio e na monotonia. A vida não é como uma cebola que se descasca chorando, ela tem suas alegrias mais íntimas e profundas, mesmo quando o sofrimento vem nos levar a pensar diversamente. A tristeza é sempre o caruncho da felicidade. Se a um quadro não se dá movimento e colorido, ele se torna inexpressivo. Também a vida torna-se “chata” se não a valorizamos com as cores do Amor, da Alegria, do Abandono e Confiança total em Deus.

De Teresinha diziam as irmãs do Carmelo “ela está sempre alegre e contente”. Mesmo nos momentos de trevas “em noites de fé e dor física” ela sorria, sorria sempre porque o seu sorriso brotava do contato com Deus.

Quando o coração está contente e confiante não se pensa mais na cebola que se descasca chorando. Feliz aquele que tem o dom de ver o lado luminoso de todas as coisas. Vivamos como Santa Teresinha: “Apesar da minha extrema pequenez, ouso fitar o sol Divino, o sol do Amor e meu coração sente nele todas as aspirações da águia.”"
Maria Emilce Fialho (1930-2011)
(Trecho do texto publicado no Jornal Pequena Via, Ed. Jun/Jul 2011)

Hoje tão somente...


"Hoje reflito sobre a minha dificuldade de estar inteiro nas situações atuais da vida...
Como o ontem e o amanhã influenciam de forma exagerada no meu hoje!
O pensamento do que foi ou do que será me impendem de viver plenamente o agora justamente por que não me deixam estar completo no momento presente.
É impressionante, mas tem dias que não vivo nenhum momento que lhes são próprios... Passo o dia fazendo coisas para amanhã ou fazendo coisas que deveriam ter sido feitas ontem.
Não estou aqui dizendo que devo ser displicente ao ponto de ignorar meu passado e meu futuro, o que quero dizer é que eles devem ocupar um espaço certo nas nossas vidas.
O passado é minha experiência e o futuro minha esperança...
Não podem controlar as minhas atitudes diárias!
O que é a vida senão o hoje?
Santa Teresinha viveu tão somente o hoje e encontrou um sentido pleno para sua vivência aqui na terra...
Tinha consciência que para amar a Deus, a tarefa mais importante do mundo, só possuía o agora, o instante presente.
Qual é a tarefa mais importante da minha vida?
Quando posso realizá-la?
Não é simples?"
(texto extraído do blog "O amor é simples", postado 21 de fev. 2007)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A fugacidade do tempo...


Vivi no último sábado a graça de renovar meu compromisso com o caminho de espiritualidade deixado por Santa Teresinha e com a Fraternidade Pequena Via. O tempo que antecede e sucede a celebração dos vínculos é muito fecundo. Faz-me rever atitudes, redescobrir motivações, recorda-me o caminho que busco seguir. Nos últimos dias, sobretudo, minhas reflexões têm-se voltado para o tempo, deste tempo que como areia escorre das nossas mãos... De fato, volta e meia esse tema torna-se reincidente em meus pensamentos. E é bom que seja assim... para que eu não esqueça do ontem, tenha esperança no amanhã e, sobretudo, viva o hoje. 

Não quero deter-me a pensar, com nostalgia, na brevidade do tempo. Para nós, cristãos, a fugacidade do caminhar terreno deveria incitar-nos a aproveitar melhor o tempo; nunca a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso. Um dia que termina, com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos aproxima do Céu, nossa pátria definitiva.

Ao pensar nesta realidade, entendo a exclamação de Paulo em sua primeira carta à comunidade de Corinto (I Cor 7,29): “o tempo é breve”... Ahhh, como é breve a duração da nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam-lhe no mais íntimo do coração como uma censura pela sua falta de generosidade e como um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo para amar...


"Minha vida é só um instante, uma hora que passa. Minha vida é um só dia que se esquiva e foge, bem o sabeis, meu Deus! Para vos amar na terra só tenho hoje".
Santa Teresinha                          


Precisamos aprender muito com Teresa. Não nos deve sobrar tempo que não envolva a prática do amor; nem mesmo um segundo. E não é exagero dizer isto. Existe muito trabalho a fazer... Se nos sobra tempo, é bom que reconsideremos um pouco: é muito possível que estejamos mergulhados na tibieza, ou que sejamos, sobrenaturalmente, paralíticos. Se não nos movimentamos, se permanecemos estáticos, fazendo sempre o mínimo – ou nem isso – tornamo-nos estéreis, não produzimos fruto; seremos como a figueira que só serve para ser lançada ao fogo.

Todo o espaço de nossa existência é pouco para dilatarmos as fronteiras da vivência do amor. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 23, 35). É assim que devemos ser reconhecidos, porque o amor é o ponto de arranque de qualquer atividade cristã, é a força que movimenta nossa vida espiritual...

domingo, 26 de junho de 2011

Incalculável...

É fato. E estou cada vez mais persuadido disto: a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra...

Diz a Bíblia que o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro... Esta passagem do Evangelho caiu na minha alma e lançou raízes. Verdade que eu já a tinha lido muitas vezes, mas acho que nunca havia captado sua substância, o seu "sabor divino". Tudo... tudo deve ser vendido pelo homem sensato, para conseguir o tesouro, a pérola preciosa da Glória! Qual o valor de um Tesouro Incalculável? Por mais que o homem que o encontrou tivesse posses, ele sabia que nada, nada se comparava àquele tesouro que ele encontrou. E por isso, ele seria capaz de abdicar de tudo o que tinha - ou que achava que tinha - pelo tesouro que encontrou. Ahhh, quão pouco valem as coisas da terra que, mal começam, já acabam... E mesmo assim, como somos tão apegados...

Só é possível desapegar de nós mesmos quando passamos a olhar amorosamente para o irmão que está ao lado - seja ele quem for -, porque quando olhamos para o irmão e enxergamos o Cristo que vive nele, encontramos sentido sobrenatural para nossa existência. Servir aos outros, por Cristo, exige que sejamos muito humanos. Se a nossa vida for desumana, Deus nada edificará sobre ela, pois normalmente não constrói sobre a desordem, sobre o egoísmo, sobre a prepotência. Não diremos que o injusto é justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. No entanto, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com o testemunho autêntico e com a ação boa: afogando o mal em abundância de bem.

No Sermão da Montanha, Jesus ensina o preceito divino da caridade a todos os que estão dispostos a abrir-lhe os ouvidos da alma. E, ao concluir, explica como resumo: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar nada em troca, e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom mesmo com os ingratos e os maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso".

A misericórdia não se detém numa estrita atitude de compaixão; a misericórdia identifica-se com a superabundância da caridade, que por sua vez arrasta consigo a superabundância da justiça. Misericórdia significa manter o coração em carne viva, humana e divinamente penetrado de um amor firme, sacrificado, generoso. Assim comenta São Paulo a caridade, no seu cântico a essa virtude: "a caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não age precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus interesses, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a injustiça, mas compraz-se na verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre"...

Ao cristão só existe uma medida: a de amar sem medida! E a felicidade? Dizia Dom Luciano que "Ser feliz é fazer as pessoas felizes". E isso só se consegue amando, e amando sem limites... aí teremos encontrado o tesouro que "nem as traças nem a ferrugem podem consumir e que os ladrões não podem furar nem roubar..."