quarta-feira, 29 de abril de 2009

desacertos

No último final de semana, tive uma conversa difícil com um amigo. um bom amigo. Difícil sobretudo para mim, pois fui percebendo um tanto de coisas que fazia em que estava errado, coisas que preciso mudar. É difícil vencer o orgulho que nos rasga por dentro e reconhecer nossos desacertos. Somos relutantes a acolher a pedagogia amorosa que Cristo veio nos ensinar... A compreender que a humildade nasce como fruto de conhecermos a Deus e de conhecermos a nós mesmos...

Por vezes, quando em situações como essa, onde somos repreendidos, nos angustiamos, nos recolhemos, nos sentimos injustiçados, ficamos bravos, estressados, tristes... Essas depressões, porque vês ou porque descobrem os teus defeitos, não têm fundamento... É necessário que peçamos a verdadeira humildade ao Senhor. E que fujamos dessa falsa humildade que se chama comodismo, que se chama autocompadecimento...

São santos os que lutam até o fim da vida: os que sempre sabem levantar-se depois de cada tropeço, de cada queda, para prosseguir valentemente o caminho com humildade, com amor, com esperança. Nossos erros devem nos levar a reconhecer o quão pequenos somos diante da perfeição de Deus... Assim, serão caminho de santidade...

A humildade leva cada alma a não desanimar perante os seus erros. A verdadeira humildade leva... a pedir perdão!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Cruz que nos faz irmãos

Também nesse ano percorremos o caminho da cruz, a Via-Sacra, voltando a evocar com fé as etapas da paixão de Cristo. Nossos olhos voltaram a contemplar os sofrimentos e a angústia que nosso Redentor teve de suportar na hora da grande dor, que supôs o cume de sua missão terrena. Jesus morre na cruz e jaz no sepulcro. O dia da Sexta-Feira Santa, tão impregnado de tristeza humana e de religioso silêncio, se encerra no silêncio da meditação e da oração. Ao voltar para casa, também nós, como quem assistiu ao sacrifício de Jesus, batemos no peito, evocando o que aconteceu. É possível permanecer indiferentes perante a morte do Senhor, do Filho de Deus? Por nós, por nossa salvação, Ele se fez homem, para poder sofrer e morrer.
Irmãos e irmãs: dirijamos hoje a Cristo nossos olhares, com freqüência distraídos por dissipados e efêmeros interesses terrenos. Detenhamo-nos a contemplar sua cruz. A cruz, manancial de vida e escola de justiça e de paz, é patrimônio universal de perdão e de misericórdia. É prova permanente de um amor oblativo e infinito que levou Deus a fazer-se homem, vulnerável como nós, até morrer crucificado.
Através do caminho doloroso da cruz, os homens de todas as épocas, reconciliados e redimidos pelo sangue de Cristo, se converteram em amigos de Deus, filhos do Pai celestial. "Amigo", assim chama Jesus a Judas e lhe dirige o último e dramático chamado à conversão. "Amigo", chama a cada um de nós, porque é autêntico amigo de todos nós. Infelizmente, nem sempre conseguimos perceber a profundidade deste amor sem fronteiras que Deus tem por nós. Para Ele não há diferença de raça e cultura. Jesus morreu para libertar à antiga humanidade da ignorância de Deus, do círculo de ódio e violência, da escravidão do pecado. A cruz nos torna irmãos e irmãs.
Mas perguntemo-nos, neste momento, o que fizemos com este dom, o que fizemos com a revelação do rosto de Deus em Cristo, com a revelação do amor de Deus que vence o ódio. Tantos, também em nossa época, não conhecem a Deus e não podem encontrá-lo no Cristo crucificado. Tantos estão à busca de um amor ou de uma liberdade que exclui Deus. Tantos acreditam não ter necessidade de Deus.
Queridos amigos: após ter vivido juntos a paixão de Jesus, deixemos que nesta noite seu sacrifício na cruz nos interpele. Permitamos-lhe que ponha em crise nossas certezas humanas. Abramos o coração. Jesus é a verdade que nos faz livres para amar. Não tenhamos medo: ao morrer, o Senhor destruiu o pecado e salvou os pecadores, ou seja, todos nós. O apóstolo Pedro escreve: "sobre o madeiro levou nossos pecados em seu corpo, a fim de que, mortos para nossos pecados, vivêssemos para a justiça" (I Pedro 2, 24). Esta é a verdade da Sexta-Feira Santa: na cruz, o Redentor nos fez filhos adotivos de Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança. Permaneçamos, portanto, em adoração ante a cruz.
Cristo, dai-nos a paz que buscamos, a alegria que desejamos, o amor que preenche nosso coração sedento de infinito. Esta é nossa oração nesta noite, Jesus, Filho de Deus, morto por nós na cruz e ressuscitado no terceiro dia. Amém.
Palavras de Bento XVI na Sexta-Feira Santa de 2008

sábado, 4 de abril de 2009

Reflexões sobre a Via Crucis (XIV)

Muito perto do Calvário, num horto, José de Arimatéia tinha mandado talhar para si um sepulcro novo, na rocha. E, por ser véspera da grande Páscoa dos judeus, é lá que põem Jesus. Depois, José rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e retirou-se (Mt 27, 60).

Jesus veio ao mundo sem nada, e sem nada — nem mesmo o lugar onde repousa — foi-se-nos embora. A Mãe do Senhor — minha Mãe — e as mulheres que tinham seguido o Mestre desde a Galiléia, depois de observarem tudo atentamente, vão-se embora também. Cai a noite. Agora tudo passou. Concluiu-se a obra da nossa Redenção. Já somos filhos de Deus, porque Jesus morreu por nós e a sua morte nos resgatou.

Temos de converter em vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e pela penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com ânsias de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele.

Nicodemos e José de Arimatéia — discípulos ocultos de Cristo — intercedem por Ele valendo-se dos altos cargos que ocupam. Na hora da soledade, do abandono total e do desprezo..., expõem-se audazmente! (Mc 15,43). Valentia heróica!

Sabei que fostes resgatados da vossa vã conduta... não com prata ou ouro, que são coisas perecíveis, mas pelo sangue precioso de Cristo (I Pe 1, 18-19). Não nos pertencemos. Jesus Cristo comprou-nos com a sua Paixão e com a sua Morte. Somos vida sua. Já só há uma única maneira de vivermos na terra: morrer com Cristo para ressuscitar com Ele, até podermos dizer com o apóstolo: "Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gal 2, 20).

A Paixão de Jesus é manancial inesgotável de vida. Umas vezes, renovamos o gozoso impulso que levou o Senhor a Jerusalém. Outras, a dor da agonia que concluiu no Calvário... Ou a glória do seu triunfo sobre a morte e o pecado. Mas, sempre!, o amor — gozoso, luminoso, doloroso, glorioso — do Coração de Jesus Cristo. Pense primeiro nos outros. Assim passarás pela terra com erros, sim — que são inevitáveis — , mas deixando um rasto de bem. E quando chegar a hora da morte, que virá inevitável, irá acolhê-la com júbilo, como Cristo, porque, como Ele, também ressuscitaremos para receber o prêmio do seu Amor.

Quando me sinto capaz de todos os horrores e de todos os erros que as pessoas mais ruins cometeram, compreendo bem que não posso ser fiel... Mas essa incerteza é uma das bondades do Amor de Deus, que me leva a estar, como uma criança, agarrado aos braços de meu Pai, lutando cada dia um pouco para não me afastar d'Ele. Fico então com a certeza de que Deus não me largará da sua mão. "Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do fruto de suas entranhas? Pois ainda que ela se esquecesse, eu não te esquecerei" (Is 49, 15).

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

Reflexões sobre a Via Crucis (XIII)

Submersa em dor, Maria está junto à cruz. E João, com Ela. Mas faz-se tarde, e os judeus insistem que tirem o Senhor dali.

Depois de ter obtido de Pilatos a autorização que a lei romana exige para sepultar os condenados, chega ao Calvário um senador chamado José, homem virtuoso e justo, proveniente de Arimatéia, que não tinha concordado com a decisão dos outros nem com seus atos, e que era dos que esperavam o reino de Deus (Lc 23, 50-51). Acompanha-o Nicodemos — o mesmo que em outra ocasião fora de noite ter com Jesus — , trazendo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés (Jo 19, 39).

Não eram conhecidos publicamente como discípulos do Mestre; não tinham presenciado os grandes milagres nem O tinham acompanhado na sua entrada triunfal em Jerusalém. Agora que o momento é mau e os outros fugiram, não têm medo de expor-se pelo seu Senhor. Tomam ambos o corpo de Jesus e o deixam nos braços de sua Santíssima Mãe. Renova-se a dor de Maria.

— Para onde foi o teu Amado, ó mais bela das mulheres? Para onde foi aquele a quem amavas? e nós o buscaremos contigo (Cant 5, 17). A Virgem Santíssima é nossa Mãe, e não queremos nem podemos deixá-La só.

Veio salvar o mundo, e os seus O negaram diante de Pilatos. Ensinou-nos o caminho do bem, e O arrastaram pelo caminho do Calvário. Deu exemplo em tudo, e preferem um ladrão homicida.
Nasceu para perdoar, e — sem motivo — O condenam ao suplício. Chegou por caminhos de paz, e declaram-Lhe a guerra. Era a Luz, e entregam-nO ao poder das trevas. Trazia Amor, e pagam-Lhe com ódio. Fez-se servo para nos libertar do pecado, e O pregam na Cruz. Tomou carne para nos dar a Vida, e nós O recompensamos com a morte.

Não entendo o teu conceito de cristão. Achas que é justo que o Senhor tenha morrido crucificado e tu te conformes com "ir levando"? Por acaso, esse "ir levando" é o caminho áspero e estreito de que falava Jesus? Não admitas o desalento no teu apostolado. Não fracassaste, como Jesus também não fracassou na Cruz. Ânimo!... Continua contra a corrente, protegido pelo Coração Materno e Puríssimo da Senhora: "Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza". Tranqüilo. Sereno... Deus tem muito poucos amigos na terra. Não desejes sair deste mundo. Não te esquives ao peso dos dias, ainda que às vezes se nos tornem muito longos.

Se queres ser fiel, seja muito mariano. A nossa Mãe — desde a anúncio do anjo até à sua agonia ao pé da Cruz — não teve outro coração nem outra vida que não a de Jesus. Recorre a Maria com terna devoção de filho, e Ela te alcançará essa lealdade e esse desprendimento que desejas...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Reflexões sobre a Via Crucis (XII)


Todos os que passam por ali O injuriam e fazem troça dEle.

Se é o rei de Israel, que desça agora da cruz (Mt 27, 42).

Um dos ladrões sai em sua defesa:

Este não fez mal algum... (Lc 23, 41).

Depois dirige a Jesus um pedido humilde, cheio de fé:

Senhor, lembra-te de mim quando estiveres no teu reino (Lc 23, 42).

Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23, 43).

Junto à Cruz está sua Mãe, Maria, com outras santas mulheres. Jesus olha para Ela, e depois olha para o discípulo a quem ama, e diz à sua Mãe:

Mulher, aí tens o teu filho.

Depois diz ao discípulo:

Aí tens a tua mãe (Jo 19, 26-27).

Apagam-se as luminárias do céu, e a terra fica sumida em trevas. São perto das três, quando Jesus exclama:

Eli, Eli, lamma sabachtani? Isto é: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27, 46).

Depois, sabendo que todas as coisas estão prestes a ser consumadas, para que se cumpra a Escritura, diz:

— Tenho sede (Jo 19, 28).

Os soldados embebem em vinagre uma esponja e, pondo-a numa haste, aproximam de sua boca. Jesus sorve o vinagre e exclama:

Tudo está consumado (Jo 19, 30).

Rasga-se o véu do templo e a terra treme, quando o Senhor clama em voz forte:

— Pai, em tuas mãos encomendo o meu espírito (Lc 23, 46).

E expira.

Ama o sacrifício, que é fonte de vida interior. Ama a Cruz, que é altar do sacrifício. Ama a dor, até beber, como Cristo, o cálice até a última gota.

"E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito"(Jo 19,30).

O Senhor exalou o seu último alento. Os discípulos tinham-nO ouvido dizer muitas vezes: "meu alimento é fazer a vontade dAquele que me enviou e cumprir a sua obra" (Jo 4, 34). Assim o fez, até o fim, com paciência, com humildade, sem reservar nada para Si... " obedeceu até à morte, e morte de Cruz!"

Uma Cruz. Um corpo cravado com pregos ao madeiro. O lado aberto... Com Jesus ficam somente sua Mãe, umas mulheres e um adolescente. Os Apóstolos, onde é que estão? E os que foram curados de suas doenças: os coxos, os cegos, os leprosos? E os que O aclamaram?... Ninguém responde! Cristo, rodeado de silêncio. Você também pode sentir algum dia a solidão do Senhor na Cruz. Procura então o apoio dAquele que morreu e ressuscitou. Procura para si abrigo nas chagas de suas mãos, de seus pés, do seu lado aberto. E renovará a sua vontade de recomeçar, e reempreenderá o caminho com maior decisão e vontade de dar passos...

Sempre me comovo quando penso no tal ladrão arrependido: preciso ser ousado como ele - reflito comigo mesmo. Reconheceu que ele, sim, é que merecia aquele castigo atroz... E com uma palavra "roubou" o coração de Cristo e abriu para si as portas do Céu...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

Reflexões sobre a Via Crucis (XI)

Agora crucificam o Senhor, e junto d'Ele dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. Entretanto, Jesus diz:

Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34).

Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E já na Cruz, todos os seus gestos e todas as suas palavras são de amor, de amor sereno e forte.

Juntamente com as marteladas que pregam Jesus, ressoam as palavras proféticas da Escritura Santa: "Trespassaram as minhas mãos e os meus pés. Posso contar todos os meus ossos, e eles me olham e me contemplam" (Sl 21, 17-18).

Já pregaram Jesus ao madeiro. Os algozes executaram impiedosamente a sentença. O Senhor deixou, com mansidão infinita... Não era necessário tanto tormento. Ele podia ter evitado aquelas amarguras, aquelas humilhações, aqueles maus tratos, aquele juízo iníquo, e a vergonha do suplício, e os pregos, e a lança... Mas quis sofrer tudo isso por você e por mim. E nós não havemos de saber corresponder?

É muito possível que nalguma ocasião, a sós com um crucifixo, refletindo sobre a Paixão, lhe venham lágrimas aos olhos. Não te contenhas... Mas procura que esse pranto acabe num propósito. Como são belas as cruzes no cume dos montes, no alto dos grandes monumentos, nas torres das catedrais!... Mas a Cruz, é preciso inseri-la também nas entranhas do mundo. Jesus quer ser levantado ao alto, aí: no ruído das fábricas e dos escritórios, no silêncio das bibliotecas, no barulho das ruas, na quietude dos campos, na intimidade das famílias, nas assembléias, nos estádios... Lá onde um cristão gaste a sua vida honradamente, deve colocar com o seu amor a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas.

Antes de começar a trabalhar, põe junto à sua mesa, ou junto dos utensílios do seu trabalho, um crucifixo. De quando em quando, lança-lhe um olhar... Quando chegar a fadiga, olhe para Jesus, e acharás nova força para prosseguir no teu empenho. Porque esse crucifixo é mais que o retrato de uma pessoa querida: os pais, os filhos, a mulher, a noiva... Ele é tudo: teu Pai, teu Irmão, teu Amigo, o teu Deus e o Amor dos teus amores...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Reflexões sobre a Via Crucis (X)

Quando o Senhor chega ao Calvário, dão-Lhe de beber um pouco de vinho misturado com fel, como um narcótico que diminua em parte a dor da crucifixão. Mas Jesus, tendo-o provado, para agradecer esse piedoso serviço, não quis bebê-lo (cf. Mt 27, 34). Entrega-se à morte com a plena liberdade do Amor. Depois, os soldados despojam Cristo de suas vestes.

"Desde a planta dos pés até o alto da cabeça, não há nele nada são; tudo é uma ferida, inchaços, chagas podres, nem tratadas, nem vendadas, nem suavizadas com óleo" (Is 1, 6).

Os algozes tomam as suas vestes e as dividem em quatro partes. Mas a túnica não tem costura, e por isso dizem:

"— Não a dividamos, mas lancemos sortes para ver de quem será" (Jo 19, 24). Deste modo voltou a cumprir-se a Escritura: "Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sortes sobre a minha túnica" (Sl 21, 19).

É o despojamento, é a pobreza mais absoluta. Nada restou ao Senhor, a não ser um madeiro. Para chegar a Deus, Cristo é o caminho. Mas Cristo está na Cruz; e, para subir à Cruz, é preciso ter o coração livre, desprendido das coisas da terra... Do tribunal ao Calvário, choveram sobre Jesus os insultos da plebe enlouquecida, o rigor dos soldados, as zombarias do Sinédrio... Escárnios e blasfêmias... Nem uma queixa, nem uma palavra de protesto. Nem mesmo quando Lhe arrancaram da pele as vestes. Aqui compreendo a minha insensatez ao desculpar-me. Propósito firme: trabalhar e sofrer pelo meu Senhor, em silêncio.

O corpo chagado de Jesus é verdadeiramente um receptáculo de dores... Por contraste, vem-me à memória tanto comodismo, tanto capricho, tanto desleixo, tanta mesquinhez... e essa falsa compaixão com que trato a minha carne... Senhor! Por tua Paixão e por tua Cruz, dá-me forças para viver a mortificação dos sentidos e arrancar tudo o que me afaste de Ti.

A ti, que te desmoralizas, vou-te repetir uma coisa muito consoladora: a quem faz o que pode, Deus não lhe nega a sua graça. Nosso Senhor é Pai, e, se um filho Lhe diz na quietude de seu coração: "Meu Pai do Céu, aqui estou eu, ajuda-me...", se recorre à Mãe de Deus, que é Mãe nossa, vai para a frente. Mas Deus é exigente. Pede amor de verdade; não quer traidores. É preciso que sejamos fiéis nessa peleja sobrenatural, que é sermos felizes na terra à força de sacrifício. Os verdadeiros obstáculos que nos separam de Cristo — a soberba, a sensualidade, o egoísmo, etc... — superam-se com oração e penitência. E rezar e mortificar-se é também ocupar-se dos outros e esquecer-se de si mesmo. Se vives assim, verás como a maior parte dos contratempos que tens, desaparecem...

Quando lutamos por ser verdadeiramente como Cristo, então o humano se entrelaça com o divino na nossa própria vida. Todos os nossos esforços — mesmo os mais insignificantes — adquirem um alcance eterno, porque se unem ao sacrifício de Jesus na Cruz...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.

Reflexões sobre a Via Crucis (IX)

O Senhor cai pela terceira vez, na ladeira do Calvário, quando faltam apenas quarenta ou cinqüenta passos para chegar ao cimo. Jesus não dá conta mais de ficar em pé: faltam-Lhe as forças e, esgotado, cai por terra.

Entregou-se porque quis; maltratado, não abriu a boca, qual cordeiro levado ao matadouro, qual ovelha muda ante os tosquiadores (Is 53, 7).

Todos contra Ele... os da cidade e os forasteiros, e os fariseus e os soldados e os príncipes dos sacerdotes... Sua Mãe — nossa Mãe — , Maria, chora.

Jesus cumpre a Vontade de seu Pai! "amou-me e entregou-se até à morte por mim" (Gal 2, 20).

O Senhor já não pode levantar-se, tão pesado é o fardo da nossa miséria. Levam-nO como peso morto até o suplício. Ele deixa, em silêncio. Humildade de Jesus. Aniquilamento de Deus que nos levanta e exalta. Agora entendo com mais clareza, com menos poesia e mais humanidade a homilia do Padre Wander no último domingo, em que ele dizia que devemos ser como a uva que precisa ser pisada para fazer-se vinho e como o trigo, que precisa ser triturado para fazer-se pão. É preciso por o coração no chão para que os demais pisem macio... Quão custoso é chegar até o Calvário!

É preciso vencer a nós mesmos, para que não abandonemos o caminho... Essa peleja é uma maravilha, uma autêntica prova do amor de Deus, que nos quer fortes, porque, "a virtude se fortalece na fraqueza" (II Cor 12, 9).

O Senhor sabe que, quando nos sentimos fracos, nos aproximamos d'Ele, rezamos melhor, nos mortificamos mais, intensificamos o amor ao próximo. Assim nos fazemos santos. Dê graças a Deus porque Ele permite que haja tentações..., e porque lutas contra elas.

Quer acompanhar Jesus de perto, muito de perto?... Abra o Santo Evangelho e leia a Paixão do Senhor. Mas ler só, não: viver. A diferença é grande. Ler é recordar uma coisa que passou; viver é achar-se presente num acontecimento que está ocorrendo agora mesmo, ser mais um naquelas cenas. Deixa, pois, que teu coração se expanda, que se coloque junto do Senhor. E quando notar que está a escapar — que é covarde, como os outros — , peçamos perdão juntos pelas tuas covardias e pelas minhas...

Adaptado do livro "Via Crucis", São Josemaría Escrivá.