terça-feira, 24 de março de 2009

liberdade no abandono


Hoje gostaria de começar refletindo sobre a parábola dos talentos... O servo que recebeu um talento podia - como os seus companheiros - empregá-lo bem, tratar de fazê-lo render, pondo em jogo as qualidades que possuía. E o que é que decide? Preocupa-o o medo de perdê-lo. Muito bem. Mas depois? Enterra-o! E aquilo não dá fruto...

Não esqueçamos este caso de temor doentio de aproveitar honradamente a capacidade de trabalho, a inteligência, a vontade, o homem todo. Eu o enterro - parece afirmar este infeliz -, mas a minha liberdade fica a salvo! Não. A liberdade inclinou-se para algo de muito concreto, para a secura mais pobre e árida. Tomou partido, porque não tinha outro remédio senão escolher. Mas escolheu mal.

Nada mais falso do que opor a liberdade à entrega de si, porque essa entrega, esse abandono, surge como conseqüência da liberdade. Reparemos: quando uma mãe ou um pai se sacrifica por amor de seus filhos, fez uma opção; e, conforme for a medida desse amor, assim se manifestará a sua liberdade. Se esse amor for grande, a liberdade se mostrará fecunda, e o bem dos filhos procederá dessa bendita liberdade, que pressupõe entrega, e procederá dessa bendita entrega, que é precisamente liberdade.

Mas, quando conseguimos o que amamos com toda a alma, não mais continuamos a procurar. Desapareceu a liberdade? Asseguro-lhes que então é mais operativa do que nunca, pois o amor não se contenta com um cumprimento rotineiro nem se compagina com o fastio ou com a apatia. Amar significa recomeçar a servir todos os dias, com obras de carinho.

A liberdade e a entrega de si não se contradizem; apóiam-se mutuamente. A liberdade só pode ser entregue por amor; outro gênero de desprendimento, eu não saberia considerar. Não é um jogo de palavras, mais ou menos acertado. Na entrega voluntária, em cada instante dessa dedicação, a liberdade renova o amor, e renovar-se é ser continuamente jovem, generoso, capaz de grandes ideais e de grandes sacrifícios...

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