quarta-feira, 20 de maio de 2009

pureza de coração...

Ter um coração puro... tenho refletido sobre isso... sobre o que é ter um coração puro, sobre o que é, para Deus, a pureza no coração do homem... e sobre a importância de ser um homem puro, ou melhor, um cristão puro nos dias de hoje...

Ter um coração puro não quer dizer somente ser casto de corpo e de pensamento, segundo a condição que livremente escolhemos, mas também estar livre de todos os outros atrativos que nos afastem do Amor de Deus e do serviço de nossos irmãos...

Puro é o coração que não conhece mescla, divisão, comprometimentos. "Detesto os corações divididos", canta o salmista... Jesus retoma o seu cântico e faz da pureza do coração uma das bem-aventuranças: "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus". Eles verão a Deus face a face na eternidade. Mas, desde aqui, compartilham com os pequeninos, o privilégio de penetrar profundamente, e por intuição, no mistério divino.

A pureza do coração é a condição de toda união a Deus e de todo o progresso na oração... Se o coração permanece preso a qualquer coisa ou a qualquer pessoa que o afaste de Deus, não pode elevar-se ao Senhor com toda a liberdade. O próprio Senhor não pode doar-se como gostaria. Com o coração dividido, não podemos penetrar na intimidade de Jesus!

É aos corações puros também, que o Senhor oferece mais facilmente a clareza nos discernimentos, essa "perspicácia espiritual" que nos permite reconhecer o que vem de Deus, o que vem do homem ou o que não vem de nenhum dos dois...

É ainda a pureza do coração que dá a sabedoria nas decisões, pois assegura a liberdade de julgamento e a docilidade às inspirações do Espírito. Ela é a simplicidade do olho que permite ao corpo todo mover-se na luz...

É o Espírito do Senhor que nos dá a força de entrar no caminho da renúncia evangélica. É ele quem cria em nós essa pureza de coração que, sem ele, não podemos alcançar...

"Ó Deus, cria em mim um coração puro, renova um espírito firme no meu peito". (Sl 50, 12)

terça-feira, 12 de maio de 2009

Pequeninos aos olhos do Pai

Essa semana estou refletindo um pouco sobre a importância de ser pequeno, de ser criança nos braços do Pai... E decidi que quero ser sempre criança, ainda que morra de velhice... Quando uma criança tropeça e cai, ninguém estranha...; seu pai se apressa a levantá-la. Mas quando quem tropeça e cai é um adulto, o primeiro movimento é de riso... Às vezes, passado esse primeiro ímpeto, o ridículo cede lugar à piedade. Mas os adultos têm que se levantar sozinhos... A nossa experiência cotidiana, em geral, é cheia de tropeços e quedas... Ser criança, aos olhos de Deus, não é ser imaturo ou infantil, mas é fazer a experiência de deixar-se guiar com inteira confiança, sem medos nem duplicidades, de falar com absoluta clareza daquilo que se tem na cabeça e na alma, de se deixar ser filho... ou melhor, filhinho de Deus. Para que, quando tropeçares, te levante a mão de teu Pai-Deus...

A piedade que nasce da filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar a existência inteira: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afetos. Alguma vez já observou nas famílias, que os filhos, mesmo sem perceberem, imitam seus pais, repetem os seus gestos, os seus costumes, adotam tantas vezes comportamentos idênticos? O mesmo se passa na conduta do bom filho de Deus: consegue-se também - sem que se saiba como nem por que caminho – uma imitação do olhar de Deus, que nos ajuda a focalizar os acontecimentos com o relevo sobrenatural da fé; podemos amar aos homens como o nosso Pai do Céu os ama e - isto é o que mais conta - obter um brio novo no nosso esforço diário por nos aproximarmos do Senhor. Pouco importa as misérias, insisto, porque aí estão os braços amorosos do nosso Pai Celestial para nos levantar...

As grandes quedas, as que causam sérios estragos na alma, e algumas vezes com resultados quase irremediáveis, procedem sempre da soberba de nos julgarmos pessoas crescidas, auto-suficientes... Nesses casos, predomina na pessoa uma espécie de incapacidade para pedir assistência a quem a pode proporcionar: não apenas a Deus, mas também ao amigo, ao sacerdote... E aquela pobre alma, isolada na sua desgraça, afunda-se na desorientação, no descaminho...

Em nossa vida interior, é conveniente sermos como crianças recém-nascidas, como esses pequeninos que parecem de borracha, que até se divertem com os seus tombos, porque logo se põe de pé e continuam com as suas correrias; e porque também não lhes falta, quando necessário, o consolo de seus pais.

Se procurarmos nos comportar como eles, os tropeções e os fracassos na vida interior - aliás, inevitáveis - nunca desembocarão na amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo e com um sorriso que brota, como água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia que é o nosso Pai...